sábado, 24 de novembro de 2012

O choro de Boris Casoy e o sorriso do gari Francisco Gabriel

Por Davis Sena Filho — Blog Palavra Livre
 Réveillon de 2009. Hora antes da virada de ano. O tom do comentário foi de desprezo, ironia, torpeza, e, mais do que tudo: profundo preconceito social, pois arraigado em sua alma elitista, e, ao que parece, em seus mais secretos princípios, guardados em segredos e somente pronunciados àqueles que o Boris Casoy considera como seus iguais.
"Que merda! Dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho" — comentou, o mordaz e inconformado Casoy ao seu colega, Joelmir Beting, politicamente tão conservador como ele, com a presença de garis na tela da Band, a desejarem “feliz ano novo” no intervalo publicitário do Jornal da Band.
Eis que um dos garis, o senhor Francisco Gabriel de Lima, tal qual ao “âncora” da Band ficou igualmente inconformado com tamanha falta de respeito, e, sentindo-se humilhado ainda mais porque milhões de telespectadores ouviram tais impropérios do veterano jornalista, procurou seus direitos na Justiça, que depois de quase três anos condenou a TV Bandeirantes e o jornalista Boris Casoy a pagarem R$ 21 mil ao trabalhador que se sentiu ofendido, desconsiderado.
O gari Francisco, em 2009, na Band (d): processo na Justiça e indignação. 
  À época, ao saber que o áudio foi ao ar e ao vivo e com isso permitiu que sua opinião sobre os garis estava a ser visualizada e ouvida por milhares de internautas, o conservador jornalista decidiu se retratar em público e na tevê. Casoy afirmou que suas palavras foram “infelizes” e pediu “profundas” desculpas aos garis e a todos os telespectadores
Eu vi e ouvi suas desculpas, pois soube do grande furo na internet por intermédio de amigos, de colegas de trabalho e fiquei atento para assistir o Jornal da Band. Contudo, Casoy se desculpou mecanicamente, conciso, lacônico, quase a demonstrar tédio ou enfado. Percebia-se a má vontade e a falta de arrependimento para se desculpar, bem como sua incondicional e inseparável arrogância. Não poderia ser o contrário, afinal ele integra um grupo de jornalistas que trata seus patrões como colegas, quando na verdade são empregados, de confiança, lógico, mas sempre empregados.
A família Saad, proprietária do Grupo Bandeirantes, não gostou da determinação da 8ª Câmara de Direito Privado de São Paulo e já anunciou que vai recorrer, porque está inconformada em ter que pagar o gari, ou seja, ressarci-lo por o seu empregado ter humilhado, em público, os garis que saudaram os telespectadores da Band, com o desejo de um próspero ano novo. O advogado da família midiática considera que o gari “quer ganhar dinheiro fácil”. Além das palavras ríspidas e grosseiras do Boris, o trabalhador tem de ouvir picardia barata como essa.

"Vou ajudar os garis a limpar toda essa sujeira das ruas e da imprensa".
         

Nada é tão emblemático e sintomático quando ouvimos advogado como esse, porque temos a oportunidade de confirmarmos mais uma vez a forma cruel e preconceituosa de agir da burguesia brasileira, separatista, arrivista, hedonista e que luta, incessantemente, por um País VIP, para poucos privilegiados, como se fosse um clube privê à disposição dos herdeiros ideológicos da escravidão viverem intensamente seus sonhos de superioridade racial, de classe e de consumo a seus bel-prazeres.
Para os inquilinos das classes abastadas e hegemônicas, a intenção do gari de ganhar dinheiro (mesmo com a determinação do Judiciário) não condiz com sua classe social e sua origem natural. Os capitalistas poderosos pensam assim, sem sombra de dúvida. Essas coisas se percebem quando ouvimos o gari Francisco alegar que “jamais pensou que sua participação”, no intervalo do Jornal da Band, acarretaria em “preconceito e discriminação”.
O TJSP considerou que “as desculpas {do Casoy} não são suficientes para reparar o dano causado ao gari”, e completou: “Francisco Lima avisou aos familiares que iria aparecer na televisão”, e completou: “Lamentável ocorrência efetivamente ofendeu a dignidade do autor (gari)”. Os Saad donos da Band não aceitam e acham que o gari está a se aproveitar para ter vantagens monetárias. É dessa forma que os barões da imprensa, os donos das mídias de negócios privados.
Quem ri agora é o gari Francisco Gabriel.
O gari de origem pobre e nordestina, acompanhado de um colega, é humilhado e sua profissão, uma das mais úteis e importantes para a sociedade ao tempo que de alta insalubridade, tem sua queixa atendida pelo Judiciário, que, ao contrário do que fizeram no STF, não foi necessário distorcer e manipular a tese do “domínio do fato” para verificar e compreender que o senhor Boris Casoy “pisou na bola” e, como ensina o adágio popular: “Quem fala de mais dá bom dia a cavalo”.  É isso aí.
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